Na eleição da Mesa Diretora, PSL decidiu mostrar como o jogo funciona na Alesp

Na sexta-feira, 15, logo após a posse, os deputados passaram à eleição da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Mais uma vez, PSDB/PT/DEM concorreram unidos e levaram as principais posições. O PSL apresentou candidatos para sete dos nove postos mas não conseguiu nem chegar perto do número mínimo. Candidata a Presidente, a deputada Janaína Paschoal obteve apenas 16 votos – 15 do PSL e um do deputado Arthur Mamãe Falei, do DEM. Nesta entrevista, o líder da bancada do PSL, deputado Gil Diniz, analisa a performance do partido na estreia na Casa.

 

O PSL errou na estratégia para a eleição da Mesa Diretora da Alesp?

Acredito que não. Foi uma decisão da bancada até porque nós sabíamos deste acordo histórico do PT e do PSDB, então quisemos dar uma opção aos outros pares e também mostrar para a população, deixar visível esta parceria. Em outubro, nas eleições, a população foi clara sobre o que queria. Tanto é que houve uma renovação recorde aqui na Alesp. Então, colocar a Janaína (Paschoal) como candidata a Presidente foi uma maneira do PSL posicionar-se aos quatro milhões de eleitores que o partido representa. Não foi um erro estratégico; nós cumprimos a missão de mostrar à população os tipos de acordos que acontecem aqui na Alesp. Demos luz, derrubamos algumas máscaras que dificilmente a população veria no dia a dia.

 

Lançando candidatos para todas as posições na Mesa, qual o objetivo do PSL: expor o conluio PT/PSDB, afastar o PT, afastar o PSDB ou dominar a Mesa Diretora?

Na verdade, houve uma mudança no regimento, em dezembro. Até então, as votações eram todas nominais. Com a mudança regimental, somente o presidente seria voto nominal, os outros seriam aclamados se não houvesse candidatos concorrentes. Então, se não houvesse disputa, se eu não colocasse candidato em todas as posições, nós não saberíamos quem votou em quem. Foi uma estratégia do PSL para saber quais partidos estavam em acordo. Outra, se fosse por aclamação, cairia até sobre nós a acusação de ter votado no PT. Então, foi uma estratégia para mostrar, dar visibilidade ao acordo e para também conclamar os deputados. A população rechaçou o PT, derrubou o PSDB. Então queríamos expor os parlamentares. Sabemos que aqui é uma casa de diálogo, de debates, onde temos de participar das composições para que projetos bons sigam em frente, e o contrário também é verdadeiro, para que projetos ruins não prosperem.

 

A primeira secretaria é uma posição tradicionalmente da maior bancada. O PSL ignorou isso? Ou vocês acharam que eram os donos naturais dela e esperaram ser procurados? Como vocês deixaram escapar a primeira secretaria?

O artigo 12 da Constituição Estadual fala a respeito da proporcionalidade das bancadas. Até então, a maior bancada fazia o Presidente ou a primeira secretaria. Geralmente fazia o presidente porque era o PSDB. Só mudou agora porque já não é mais o PSDB, agora é o PSL. Então, demos opção de sete dos nove cargos, em dois apoiamos o NOVO. Eles poderiam ter respeitado essa proporcionalidade e deixar o PSL com a secretaria, vice-presidência ou outra posição. Mas como não entramos nesse acordão, como não nos dobramos ao PSDB ou ao PT, ficamos fora de tudo. E não havia o que fazer. O acordo já estava sacramentado. O próprio Coronel Telhada (PP) falou que o acordo foi costurado em novembro. Há um vídeo em que ele fala que o PSL só foi falar com o PP em fevereiro. Só que os acordos começaram em outubro!

 

E por que o PSL não começou a conversar em outubro?

Porque, na verdade, nós achávamos que haveria uma votação. Olha só, se já havia acordo, por que aquele teatro? Por que demandar assessoria, segurança, tudo aquilo? Nem precisava ter. Bastava só a assinatura das lideranças e pronto. Não teríamos aquele desgaste. A gente tentou conversar com vários partidos, falamos dos candidatos nossos e avisamos que não víamos problema nenhum em compor. Falamos com o Barros Munhoz (PSB), por exemplo, com o Bruno Ganem (PODE), com o Caio França (PSB), eu conversei com o próprio Cauê Macriz (PSDB). Nós conversamos…

 

Mas vocês foram conversar só em fevereiro. Aí os acordos já haviam sido estabelecidos!

Sim, já estava tudo fechado. Na verdade, meu sentimento é que não haveria espaço para o PSL, mesmo. Quando lançamos as candidaturas, nós desafiamos! Então, não haveria espaço para composição. Mas poderia haver! Por que, para ter uma posição na Mesa, teríamos que entregar os 15 votos do PSL ali no presidente?

 

Mas o sr. não acha que isso é o que chamamos de negociação? O sr. mesmo já disse que esta é uma casa de debates, de composição…

Mas, olha, o Macriz já tinha 70 votos. Ele precisava de 48 para conseguir a Presidência. Mesmo sem os votos do PT ele já estava eleito! Nem precisava do PT, ficou muito claro isso! Mas ele trouxe o PT, ele colocou o PT! Foram eleitos os melhores quadros, foi avaliado? Não. Nós precisamos mudar esta cultura. Claro que isso aqui é uma casa política, mas precisamos mudar, os melhores quadros precisam se apresentar como opção, tomar a frente, liderar. Naquele dia, nós tínhamos os melhores quadros como a Janaína Paschoal, o Major Mecca e outros altamente qualificados.

 

O sr. disse que conversou com vários partidos. Conversou com o PT?

Não! Com o PT, não.

 

Como foi a conversa com o PSDB?

Quando conversei com o Macriz, ele disse que não ia conversar sobre a Mesa porque já estava fechada, que no dia anterior ele havia fechado a última vaga. Ele queria conversar com a gente sobre as comissões, sobre a questão do PSL ser o maior partido e ficar isolado. Para mim, era uma conversa sem sentido porque se eu vou conversar com o mais forte candidato, que já havia anunciado que já tinha mais de 60 votos, e ele me diz que a porta está fechada para o PSL, não há o que fazer. É só posicionar, ver o que a bancada quer fazer e assumir.

 

Ele saiu na frente nas conversas…

Nós somos os novatos na política, eles são veteranos. Esta costura dos acordos eles conhecem. Em nenhum momento o PSL foi chamado para conversar, para dialogar, então fica fácil colocar na nossa conta a falta de um diálogo que nós nem sabíamos que já estava ocorrendo. E outra, esses parlamentares já estavam na casa, viam-se todos os dias, nós só vínhamos aqui esporadicamente. Então, não houve nem o gesto dos mais antigos de chamar os eleitos e falar sobre a forma que seria. Mas acredito que isso não mudaria nossa posição.

 

O PSL perdeu a eleição para todos os cargos da Mesa. O sr. considera que isso pode ser fruto de uma certa ingenuidade, imaturidade, de falta de experiência na casa?

Há, sim, um componente de imaturidade no sentido político. Mas este é um tipo de acordo que não queremos. Nós representamos aqui milhões de paulistas. E também não sentimos que foi uma derrota em si. Os cargos na Mesa são posições de poder na Casa, ali estão os que tomam as decisões administrativas. A Mesa vai ter direito a cargos comissionados…

 

E pautar projetos. O presidente pauta o que quer.

Sim, mas ele acaba sendo magistrado aqui, teoricamente. Mas até por isso nós fomos uma opção. Aqui temos os três poderes e nós precisamos ter independência do Palácio dos Bandeirantes. No governo e na Alesp temos o comando do PSDB, e eu nunca vi um projeto do governo ser rejeitado aqui. Isso parece um cartório que só bate carimbo. Então, foi uma forma também de exigir essa independência entre os poderes. Porque há uma hegemonia tucana em São Paulo há muito tempo. Estamos num processo puxado pelo PSL na eleição da Mesa Diretoria, e queria Deus que na próxima Mesa, aí já um tanto mais amadurecidos, espero que para o bem, não para o mal, nós possamos também ser um opção, sentar com outros parlamentares de igual para igual, mas sempre respeitando as convicções. Acredito que estamos no processo, e nós vamos mudar. Talvez não seja uma mudança logo de início, mas a gente vai pontuar e ir em frente.

 

O PSL está isolado na Alesp agora?

Não. Nós temos um perfil mais combativo que o PSDB, por exemplo. Já no primeiro dia protocolizamos a CPI do Dersa. E olha a grande dificuldade que foi protocolizar um pedido de CPI! O governo colocou gente na porta do Protocolo.

 

O sr. acha que esta CPI vai caminhar? Há tantas na frente e só podem ser abertas cinco.

Se o Plenário aprovar, pode andar mais uma. A do PT está em 12º lugar, a nossa está em 22º.

 

A do PT também é do Dersa.

Sim, tem o mesmo objeto. Eles estavam colhendo assinaturas de um lado, nós de outro…

 

Para esta CPI caminhar, o PSL terá de sentar e conversar como PT.

Também. Nós vamos sentar com o PT e conversar, como vamos conversar com todo mundo. Os projetos que são do interesse do povo de São Paulo são suprapartidários, não é um projeto do Gil Diniz, do Campos Machado… Não! Temos que pensar no povo de São Paulo. Temos que ter um diálogo. O problema é o que eu prometo para eles, e o que eles prometem para mim. Eu assinei o pedido de CPI do Dersa do PT porque eu acredito que seja uma
CPI necessária. Por exemplo: se o PT protocolizar um projeto que seja muito bom para os policiais militares de São Paulo, eu…

 

Nesse caso, o prédio da Assembleia cai!

Também acho (gargalha). Então, eu não vou assinar porque é do PT? Se o PSOL colocar um baita de um projeto para os professores eu não vou assinar porque é o PSOL? Não, isso é fazer política de uma maneira muito mesquinha. São milhares de pessoas que dependem de nós e eu fico pensando em meu interesse político, na próxima eleição? Não, não. Eu falo para os deputados da nossa bancada que não tem problema. Se tiver que sentar para conversar, a gente vai. Agora, você nunca vai nos ver fazendo acordo com eles, negociando cargos com eles.

 

O PSL está fora das comissões?

Regimentalmente, temos espaço em todas as comissões.

 

Estou me referindo à Presidência das comissões.

Isso ainda não foi discutido. Mas provavelmente…

 

Não.

Nós vamos exigir. Nós entramos com mandado de segurança questionando este espaço na Mesa e também colocando a questão das comissões, já antecipando. Vamos discutir.

 

Quem vai designar o Presidente da Comissão?

Teoricamente seria uma votação. Mas já sabemos como funcionam as votações aqui. E isso é triste! Eu vou indicar a Janaína Paschoal para a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), uma comissão superimportante porque barra projetos que são inconstitucionais que não devem prosperar e gerar expectativas…

 

Como a PEC 2?

Exatamente. É triste. Dói no coração ter que falar para o policial que é inconstitucional. Aí ele fala que passou na CCJ. E aí você vai ter que explicar como aquilo foi aprovado, como funciona. E você não consegue convencer. Com agente vai ser sim ou não. Se der para caminhar, a gente vai em frente. Se não der, a gente vai falar logo para não dar esperanças falsas.

 

O PSL vai disputar a presidência de quais comissões?

A CCJ com a Janaína Paschoal e a da Segurança Pública com o Major Mecca. Não é por picuinha, porque queremos simplesmente. É porque são os melhores nomes. Se houver nomes melhores a gente vai aceitar.

 

Então vai haver disputa de novo. Não haverá conversa, acordo?

Estamos abertos ao diálogo. Mas qual tipo de diálogo? Jamais vou sentar com alguém e falar “vote em mim que eu voto em você”. Nunca. Vamos no voto. Vamos analisar o currículo, ver quem é melhor para a posição. Talvez seja utopia, esperar demais de quem só pode nos trazer de menos, mas será assim.

 

Para mudar um jogo, você tem que estar no jogo. E para entrar no jogo você tem que obedecer as regras…

Olha, o pessoal da Segurança Pública que votou no PSDB e no PT está sendo massacrado, dizimado nas redes sociais. Mas isso já era esperado, eles foram avisados de que o pessoal não aceitaria. Eles falam que rede social não reflete a maioria. Mas reflete, sim! O voto do pessoal da Segurança Pública no PT e no PSDB foi traumático e será lembrado por muito tempo. E isso justamente por esse tipo de acordo! Como você disse, para mudar um jogo é preciso estar no jogo. Mas será que esse voto, essa decisão, não vai tirar justamente eles de onde estavam? Porque as pessoas que votaram não queriam essa postura desses parlamentares. Então, não podemos fazer isso porque nossos eleitores não vão aceitar.

 

Na segunda-feira o sr. fez um discurso na tribuna em que atacou duramente o pessoal da PM que não votou no Major Mecca. O sr. não acha que isso pode provocar um racha na bancada da Segurança Pública, não vai criar uma certa animosidade por algo que não tem mais retorno?

Bom, ontem meu discurso foi pior ainda e direto com o Sargento Néri. Eu prefiro olhar no olho da pessoa e falar que discordo. E também espero sinceridade do outro.

 

Mas essa crítica não pode dar um inimigo ao sr.?

Não, temos que ter maturidade. O menos votado aqui teve 23 mil votos. O mais novo aqui tem 25 anos. Temos que ter maturidade. E nem precisa gostar de mim. O sujeito pode me detestar, mas se ele tiver um bom projeto que precise do meu voto ou da minha influência política para convencer minha bancada, conversar com outras lideranças… não será essa diferença que vai me impedir de ajudar. Precisamos pensar um pouco mais acima. Eu sei que tem essas coisas, aqui é uma casa onde há muita vaidade, às vezes uma crítica soa como ofensa pessoal… Estou aqui há três dias e já vi que eles não estão acostumados a isso, parece que se encastelaram, subiram numa torre de marfim e esqueceram de que comem feijão e arroz como qualquer cidadão. Esquecerem de onde saíram. Esqueceram de suas bases. Esqueceram de sua história. Quando subo na tribuna e digo que fui carteiro, que trabalhei na periferia de São Paulo, que fui soldado PM temporário, que trabalhei na Escola Superior de Sargentos e no primeiro batalhão de choque, não falo isso para aparecer. Eu disse que aqui na Alesp precisamos ter, um com o outro, a lealdade. Lealdade e Constância. É o que está escrito no brasão da Polícia Militar. Então, se eu não tiver lealdade aqui, fica difícil. Mas não precisam gostar de mim, não. Só precisam tocar os projetos em frente.