As sereias estão cantando

Quando o assunto é segurança pública, dez entre dez candidatos ao governo do Estado de São Paulo mandam um discurso fluido e decorado, feito na medida para agradar o policial militar. A cantilena está mais afiada que nas eleições anteriores: o negócio do PM é ganhar bem, abater, agir com dureza contra tudo e contra todos, sem descanso, sem esmorecer, mesmo que isso lhe custe a própria vida. Ops, isso eles não falam.

A bola da vez são as câmeras que estão por aí grudadas nos peitos PM. A Polícia desconfia de você. Você não tem mais privacidade nem para ir ao banheiro. Você não vai conseguir trabalhar como a sociedade quer porque sua câmera vai te entregar para o TJM. Você não vai revidar tiro de marginal por medo de cometer um ato falho, por isso vai levar o tiro… Sim, eles repetem isso à exaustão.

Chegou o tempo da macheza. O “mirar na cabecinha” virou “vai levar bala quem levantar arma contra o PM”. Está desenhado um cenário de guerra igual ao Haiti (onde estão os tanques?) em que você deve atirar antes e perguntar depois. Você é a autoridade que pode mandar parar e seguir em frente. Você é a violência do bem que as pessoas de bem requerem.

Chegou o tempo da bonança. Você, coitado, ganha tão mal e ainda querem lhe tirar a última gota de sangue! Vê aí qual a menor e melhor taxa de previdência que eu devo aplicar. Estou pagando o bônus, olha como me preocupo com você. Tempos atrás, quando estive no governo, não pude mexer no seu salário; agora vai ser diferente. Há espaço para remunerar melhor, assim não dá mais. Vou fazer um plano de metas combinado com valorização do trabalhador da segurança. São Paulo não está bem no plano nacional em relação à remuneração.

As sereias estão cantando. Mas antes de mergulhar seria bom perguntar a elas não “como” vão valorizar os policiais mas “quanto”.