Cresceu e virou associação. Agora quer ter um deputado.

Aquela história de a CEPM – Comissão de Estudos de Assuntos de Interesse dos Policiais Militares do Estado de São Paulo não ser considerada “associação PM” está com os dias contados. Ela já tem Estatuto registrado, tem CNPJ e endereço, e tem o que todas as entidades querem: apoiadores, futuros associados. Se todos os apoiadores de hoje (cerca de 31 mil) assinarem a adesão, será uma das mais fortes, maior até que muitas atuais e quase centenárias. Hoje, porém, o foco é outro.

A CEPM nasceu em 2015 idealizada pelo 2º tenente Paulo Roberto Torres Galindo. Sua principal bandeira é a PEC 2, que está pronta para votação no plenário da Alesp. Reivindica que a diferença salarial entre os postos e graduações na Polícia Militar seja de no máximo 10%. As principais correções, explicitadas na PEC, devem ser feitas no salário do 2º tenente, que ganha cerca de 30% menos que o 1º tenente; e no salário do subtenente, que ganha cerca de 34% menos que o aspirante-a-oficial.

A CEPM (e seu líder, tenente Torres) ganharam projeção justamente por ocasião da aprovação da PEC em todas as comissões da Alesp e só não foi à plenário, na época, por impugnação do presidente da Mesa, deputado Cauê Macris. Da galeria da Alesp, Torres falou poucas e boas para Macris, que o expulsou de lá e barrou sua entrada no recinto. Nem o deputado Major Mecca conseguiu abrir as portas para Torres. Macris bateu o pé, fechou a porta e engavetou a PEC. “Enquanto o PSDB der as cartas nossa PEC não vai andar”, costuma dizer Torres.

Novos horizontes

A “Carta de Valores”, lançada à época da criação e mantida até hoje, explica a que veio a futura associação PM: “A CEPM foi pensada, idealizada e criada com o intuito de reivindicar direitos. Não cobramos taxas, mensalidades, honorários, emolumentos ou encargos de nenhum tipo”. De fato, ninguém tem obrigação de contribuir – o dinheiro pinga numa conta do Banco do Brasil em depósitos de 5, 10 e 20 reais em sua maioria. Até pouco tempo, era com esse recurso que a CEPM trabalhava.

Hoje, as necessidades são maiores porque novas pautas foram encampadas. A CEPM é a favor da exigência de curso superior para a ESSd, a favor da exigência do diploma de bacharel em Direito para a APMBB, quer a separação de bombeiros e PM, e vai lutar pela lista tríplice para escolha do comandante-geral. Mas também exige o que chama de melhorias para as praças: a remuneração da substituição de função, o fim do “comportamento”, uma “carreira” e o “acesso único”. Também vai brigar para que a Escola de Sargentos seja descentralizada para que o aluno não perca DEJEM e Delegada, por exemplo.

Este trabalho tem um custo, não se faz essa pregação tão somente por grupos de WhatsApp; a presença é fundamental. Por isso tem sido muito importante o apoio da AFAM – Associação Fundo de Auxílio Mútuo dos Militares do Estado de São Paulo, que fornece carro e combustível para o básico necessário: todos os dias, Torres e demais diretores estão na estrada visitando batalhões e companhias para “conscientizar os policiais militares da necessidade do engajamento em lutas por melhorias de todo tipo, não só a salarial”, explica Torres. O momento é político.

Eleições

A “Carta de Valores” avisa que nenhum dos integrantes da CEPM tem “pretensão eleitoreira”. Mas salienta que apoiará e indicará representantes caso perceba necessidade. “Se for o caso”, os apoiadores deverão trabalhar “como milhares de cabos eleitorais com o firme propósito de elegê-lo”. Não é pouca gente; 31 mil policiais militares (gente de todo o Estado) apoiam a CEPM espalhados em mais de 500 grupos de WhatsApp, a principal ferramenta de comunicação. O lado já está escolhido. Os nomes a serem trabalhados são: Bolsonaro no Planalto, Tarcísio no Bandeirantes – e Torres na Alesp.

Os apoiadores já estão sabendo como vai funcionar a candidatura e o eventual mandato. A CEPM vai atuar em “mandato compartilhado” em que todas as decisões serão do colegiado, também já escolhido. Torres será o “cabeça” como deputado, o gabinete terá oito diretores nas funções administrativas e mais dez assessores, um de cada comando de policiamento do Interior. Todos serão remunerados conforme as regras da Alesp. O partido escolhido foi o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) que estima em 40 mil votos o mínimo necessário para eleger um deputado.

Torres

Paulo Roberto Torres Galindo entrou na Escola de Soldados em 1989. Trabalhou curto período no 2º de Choque e de lá peregrinou pela APMTJ (Assessoria Policial Militar do Tribunal de Justiça de São Paulo) onde ficou dez anos trabalhando na escolta de presos. Passou pela Diretoria de Ensino e Cultura, pela Diretoria de Pessoal e pela Diretoria de Logística. Ficou seis anos no 15º batalhão de Guarulhos, foi para o CPA/M-7, depois para o CPM e, finalmente, 5º GB. Encerrou a carreira em 2015. Orgulha-se de ter mais de 200 elogios, oito medalhas e cinco títulos de “PM do mês”.

Torres é formado em História, Geografia e Estudos Sociais pela Universidade de Guarulhos, e em Pedagogia pela Universidade de Franca. Foi professor de História e Geografia em escolas estaduais, e de Sociologia e História na Escola Superior de Soldados e na Escola Superior de Sargentos.