Rodrigo Garcia não aceita “não” como resposta e afasta comandante do CPI/5

Até o final da tarde de 25 de abril, o coronel Fábio Rogério Cândido, então comandante do CPI/5, em São José do Rio Preto, era o preferido do governador Rodrigo Garcia para assumir o comando da Polícia Militar do Estado de São Paulo. Os dois sempre foram vistos como amigos na região (Fábio nasceu em Rio Preto, Garcia em Tanabi, distantes uma da outra apenas 41 quilômetros), o que em parte facilitava o contato.

Nos últimos meses, os dois se encontraram inúmeras vezes para discutir o reajuste salarial das forças de segurança, que acabou em 20%. Em todas os encontros, presença garantida do presidente da Alesp, Carlão Pignatari, de Votuporanga (a 83 quilômetros de Rio Preto), este, sim, amigo de Garcia. Além das conversas sobre o reajuste, sempre esteve em pauta a certeza dos políticos de que Fábio assumiria o comando da Polícia Militar.

Só faltava a concordância dos russos. No domingo, 24, o “Diário da Região”, de Rio Preto, publicou entrevista de página revelando que o então comandante do CPI/5 fora “sondado” para assumir a PM, porém que só o faria se o governador o autorizasse a promover um “choque de gestão” na corporação explicado em detalhes no projeto “Nova Força Pública” já em mãos de Garcia. Fábio começava exigindo novo reajuste salarial.

Além de mexer no bolso de Garcia, o “amigo” exigia mexer também na estrutura da Segurança Pública: o governador deveria dar status de secretário para o comandante-geral da PM e para o diretor-geral da Polícia Civil – o que promoveria as polícias para o segundo escalão de decisões do governo Garcia na área da Segurança. Sairiam de cena o secretário-general e seus assessores “executivos” que até hoje ninguém sabe o que fazem lá.

O “cartão de visitas” foi pesado demais para o governador. Garcia sabe que dificilmente terá os votos dos militares em outubro – seja pela herança de seu antecessor, seja pelo passado do partido que o sustenta. Por isso, vai gastar tutano apenas em ações que possam lhe render votos, e uma delas é usar a PM para conquistar a população por meio de gestos midiáticos como sair por aí revistando motoqueiros e estacionando viaturas em locais de grande visibilidade.

Na segunda-feira, 25, Fábio e Garcia conversaram pela última vez, agora por telefone. O governador disse que não podia promover aquelas mudanças, e que Fábio assumiria para executar o que dias depois ele batizaria de “Operação Sufoco”. Com a recusa do interlocutor, Garcia fez uma última tentativa avisando o comandante do CPI/5 que sua decisão poderia acarretar consequências.

Fábio tinha consciência disso e despediu-se como ex-futuro comandante-geral da Polícia Militar do Estado de São Paulo.

A edição do Diário Oficial do dia seguinte, 26, trouxe a transferência do coronel Fábio Rogério Cândido para o Comando do Policiamento da Capital. Garcia matou um comandante-geral e amarrou ainda mais a PM, mas pode ter gestado no mínimo um deputado estadual.